(veja ao final a relação dos participantes).
e é editado para leitura de cima para baixo.
Foto do título: Bandeiroso, Aguinaldo Ramos, 2001
Eu estava presente no incêndio meio que por acaso. Estava na redação do Jornal da Vale, alguns metros distante, entregando material, quando vi a fumaça que saía do prédio. Fiz algumas fotos dali mesmo e me dirigi ao local. Lá chegando vi o desespero de todos, a confusão generalizada e vi esse pátio interno, que me pareceu um bom lugar para fazer algumas fotos, sem imaginar ainda o drama que iria viver ali. Para chegar lá tive que entrar correndo e me desviando dos detritos no chão, pois pedaços de janelas e vidros quebrados caiam sem parar. Lá chegando vi várias pessoas penduradas nas janelas, procurando ar para respirar e um lugar para fugir do calor pavoroso que fazia nas salas incendiadas. 
Foi uma comoção geral. Até mesmo para os policiais e repórteres fotográficos acostumados a acompanhar tragédias.
O Corpo de Bombeiros, através de seu departamento de Relações Públicas, procurou a agência Fotossíntese e pediu para ver o material. Então, perguntou se eu poderia ceder uma série das fotos para que pudessem servir de material nas palestras e cursos internos dos bombeiros. Eles constataram nas fotos algumas atitudes que poderiam ser corrigidas e gostariam de ter esse material para isso.
 
4) Alberto Ferreira, Editor de Fotografia do JB, foi para a redação e quando voltou para a fotografia entrou gritando que ninguem tinha feito;
 


- Do material que você fez nesse dia, você tinha certeza de que esta foto tinha destaque em relação às outras?
Não, não tinha certeza, não. Porque a gente... Eu, pelo menos, sempre... Você faz uma foto na hora, aí você só vai ter uma idéia depois que ela foi revelada. Quando eu estava revelando, sim. Aí, que eu vi a foto revelada, eu falei: “pô, essa vai dar o que falar!...” Que isso não é coisa que possa acontecer com o ser humano nos dias de hoje. Ou na época, na década de 80. Mas, até hoje a gente vê humilhação por aí...
Percebi que houve uma reação grande de todos que viram a foto. Até hoje, até hoje...
Quem ainda não viu e vê a foto... Já foi usada por várias faculdades, já foi tema... Inclusive foi, até, em 1988, quando a escravidão... Fez cem anos da Lei Áurea, ela foi bem revista e colocada para todos verem que cem anos depois ainda havia esse tipo de cena. (...)
Eu percebi que tinha uma blitz, mas eu parei porque tinha um camburão parado na pista. Eu fui lá dentro do mato fazer esta foto aqui. Então, eles estavam praticamente escondidos. Quer dizer, eu cacei!... Não estavam expostos assim, na rua. Você pode ver que tem mato lá no fundo, estavam lá no meio do mato, um caminhozinho no meio do mato. Então, quer dizer, era mais escondido, de uma forma... Eles faziam as mutretas, faziam tudo que tinham que fazer, mas, mais escondidos, para que a imprensa não visse mesmo. Agora, eles não estão nem aí... Agora, é tiro pra cá, é tiro pra lá, caiu ali, se tiver fotografa, se não tiver...
- Nessa foto aí, os PMs tiveram alguma reação de não deixarem você fotografar?
Ah, a reação foi imediata!... O tenente falou: “recolhe, recolhe, recolhe!”. Quando ele percebeu que eu estava fotografando, ele mandou recolher. Só que quando ele mandou recolher, ele não percebeu que eu... O guarda não percebeu que eu estava fazendo uma foto dele. Eu estava com um grande angular, ele achou que eu estivesse fazendo só os presos. E, no entanto, ele estava enquadrado na foto. (...)
Tem a importância que tem hoje porque mostra uma autoridade, ali, que devia usar algemas, no mínimo, e usou uma corda, e amarrada no pescoço. Não foi nem nas mãos, foi no pescoço. Quer dizer, um ato escravo mesmo! (...)
Sim, agora é. Para mim, ela é uma foto histórica. E vai estar sempre no primeiro lugar, pra mim, porque é uma foto que marcou muito esse meu tempo de trabalho.
Luiz Morier > Diz que foi no Jornal Tribuna da Imprensa que tudo começou. Aos seis anos, acompanhava o pai, Max Morier, repórter esportivo já falecido, e meio que um fundador da Tribuna. Morier começou a carreira de repórter-fotográfico no extinto jornal Última Hora, em 1977. Também teve passagens pelo Globo e trabalhou como freelancer no Estadão. No Jornal do Brasil trabalhou mais de 25 anos. Nos últimos anos tem frilado para várias empresas.
Fontes: versão digital do Jornal Paparazzi, ARFOC, Associação dos Repórteres-fotográficos e Cinematográficos, http://www.arfoc.org.br/paparazzi/default3.asp?idperfil=18&idedicao=12&v=s,
e sessão Em Foco, ABI online, Associação Brasileira de Imprensa, http://www.abi.org.br/paginaindividual.asp?id=412.